terça-feira, 27 de setembro de 2016

Intentona Comunista 23/11 a 27/11/1935

 Em 11 de julho de 1935, o governo Vargas decretou a extinção da ANL e de outras organizações de cunho marxista-leninista. Embora setores mais esclarecidos da sociedade reagissem às principais atividades desenvolvidas pelos comunistas - infiltração, propaganda e aliciamento - e o Brasil não estivesse preparado para uma revolução, os dirigentes da Internacional Comunista não pareciam se preocupar com tais fatos. O Komintern exigia ação. O grupo chefiado por Luís Carlos Prestes tinha a missão de implantar no Brasil uma ditadura comunista. Ordens vieram de Moscou para que o PCB agisse o mais rápido possível. Luís Carlos Prestes concordou com o desencadeamento do movimento armado que vitimizou centenas de civis e militares.
 Os recursos de Moscou, para o financiamento da revolução, eram destinados a Celestino Paraventi, velho conhecido de Prestes no Café Paraventi, na Rua Barão de Itapetininga, em São Paulo.
 A policia, convencida de que o dinheiro vinha pelo Uruguai, jamais descobriu. Paraventi recebia as remessas regularmente, por sua conta no Banco Francês e Italiano. Próspero industrial e muito rico, Paraventi movimentava grandes somas de dinheiro e se correspondia com o mundo inteiro, sem levantar suspeitas.

 O movimento deveria eclodir, simultaneamente, no Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e Pernambuco.
 Por erro de interpretação de um código, a insurreição começou, prematuramente, no dia 23 de novembro de 1935, em Natal, quando dois sargentos, dois cabos e dois soldados do 21° Batalhão de Caçadores (21° BC), cerca de 300 homens da extinta Guarda Civil e poucos civis assumiram o controle da cidade. Foram três dias e três noites de violência e terror. Saques, estupros e arrombamentos foram a tônica das ações desencadeadas pelos revoltosos.

"Vencida a resistência da policia, a cidade ficou a mercê de uma verdadeira malta que, acéfala, passou a saquear desordenadamente os estabelecimentos comerciais e bancários. Na manhã de 24, sob a alegação de ter sido aclamado pelo povo, um incipiente "Comitê Popular Revolucionário" era dado como governo instituído e entrava em pleno exercício de mandato. O primeiro ato desse comitê foi a ordem de arrombamento dos cofres dos bancos das repartições federais e das companhias particulares para financiar a revolução"
(Jornal Inconfidência  - Belo Horizonte: 27/11/2004 - Grupo Inconfidência - E-mail: ginconfi@vento.com.br)

 O governador do Rio Grande do Norte refugiou-se no Consulado Italiano e o Consulado Chileno recebeu outras autoridades.
 A rebelião foi debelada, depois de quatro dias, pela polícia da Paraíba, juntamente com o 20° Batalhão de Caçadores (20° BC) de Alagoas.
 Os revoltosos foram presos e responderam, perante a justiça, por 20 mortes.

 Em Pernambuco, o movimento teve inicio dia 24 de novembro, pela manhã, quando um sargento, comandando um grupo de civis, invadiu a Cadeia Pública e roubou o armamento dos policiais.
 No Centro de Preparação de Oficiais da Reserva, o sargento Gregório Bezerra, na tentativa de roubar o armamento do quartel, feriu o tenente Aguinaldo Oliveira de Almeida e assassinou o tenente José Sampaio Xavier.
 Os revoltosos tentaram tomar o Quartel General da 7° Região Militar e outras unidades do Exército, mas não o conseguiram, porque a antecipação do movimento em Natal prejudicou a surpresa e colocou a guarnição federal em alerta.
 As Delegacias de Polícia de Olinda, Torre e Casa Amarela também foram atacadas por centenas de civis e alguns revoltosos.
 A reação partiu do 29° Batalhão de Caçadores (29° BC), em Socorro, a 18km de Recife, auxiliado pelas forças federais de Alagoas e Paraíba e pela Policia Militar de Pernambuco. Esse foi o mais sangrento de todos os levantes.
 O numero de mortos chegou a algumas centenas. O historiador Glauco Carneiro em Histórias das Revoluções Brasileiras, volume II, página 424, escreveu:

"... dos três levantes comunistas de 1935, foi o de Pernambuco o mais sangrento, recolhendo-se 720 mortos só na operação na frente de Recife." 

 Em 26 de novembro, o presidente Vargas, ciente da gravidade da situação decretou o estado de sítio em todo o País, após autorização do Congresso Nacional.
 No Rio de Janeiro, a insurreição eclodiu no momento marcado, dia 27 de novembro, às duas horas da madrugada, na Escola de Aviação, no Campo dos Afonsos.

 Segundo o plano, dominada a Escola de Aviação, as células comunistas de outros quartéis deveriam se insurgir, enquanto Prestes daria ordens aos civis, aliciados pelo Partido Comunista, para começar os combates de rua.
 Apesar da rigorosa prontidão militar, a ação dos revoltosos, comandados pelos capitães Agliberto Vieira de Azevedo e Sócrates Gonçalves da Silva, teve êxito, inicialmente na Escola de Aviação. O tenente-coronel Eduardo Gomes, que fora ferido, resistiria heroicamente no 1° Regimento de Aviação.
 O comandante da Guarnição da Vila Militar , general-de-brigada José Joaquim de Almeida, desencadeou, rapidamente, a reação, controlando o levante.
 O capitão Armando de Souza Melo e o tenente Danilo Paladini foram mortos pelo capitão Agliberto Vieira de Azevedo e pelo tenente Ivan Ramos Ribeiro. O mesmo capitão Agliberto assassinou também o tenente Benedicto Lopes Bragança, depois de preso e desarmado.
 No Rio de Janeiro, no 3° Regimento de Infantaria (3°RI), na Praia Vermelha, o capitão Agildo Barata Ribeiro, que estava preso no Quartel, auxiliado pelo tenente Francisco Antônio Leivas Otero, aliciara inúmeros militares, formando uma célula comunista entre os oficiais e praças da unidade. Portanto, foi apagando-se as luzes. A escuridão favoreceu os amotinados que, assim, não podiam ser identificados. O tiroteio foi intenso e alguns militares que se opunham aos comunistas morreram ainda dormindo.
 A ação determinada pelos capitães Alexânio Bittencourt e Álvaro da Silva Braga impediu o sucesso comunista no Quartel da Praia Vermelha.
 Pela manhã do dia 27 de novembro, o 3° RI estava cercado pelo Batalhão de Guardas (BG), pelo 2° Batalhão de Caçadores (2° BC) e pelo 1° Grupo de Obuses. Às 13 horas, atendendo uma intimação do general Eurico Gaspar Dutra, os rebeldes se renderam.
 O movimento, se vitorioso, teria duas fazes. Na primeira, seria organizado um governo popular de coalizão. Na seguinte, viriam os sovietes, o Exército do Povo e a hegemonia dos comunistas.
 Derrotados, mudaram o estilo, a técnica e a forma de atuar, mas não se afastaram, jamais, dos seus desígnios de implantar no Brasil um governo marxista-leninista.
 Como a direção do PCB não fora atingida, ela continuaria a agir, na clandestinidade e de forma mais cautelosa, visando à instituição de um Governo Popular Revolucionário.
 Na praça General Tribúrcio, na Praia Vermelha, Rio de Janeiro, foi erguido um monumento em homenagem aos mortos pelos comunistas, em 27 de novembro de 1935.


Relação dos oficiais, sargentos, cabos e soldados do Exército Brasileiro mortos pelos comunistas:

Abdiel Ribeiro dos Santos - 3° sargento
Alberto Bernardino de Aragão - 2° cabo
Álvaro de Souza Pereira - soldado
Armando de Souza Mello - major
Benedicto Lopes Bragança - capitão
Clodoaldo Ursulano - 2° cabo
Coriolano Ferreira Santiago - 3° sargento 
Danilo Paladini - capitão
Fidelis Batista de Aguiar - 2° cabo
Francisco Alves da Rocha - 2° cabo
Genaro Pedro Lima - soldado
Geraldo de Oliveira - capitão
Gregório Soares - 3° sargento
Jaime Pantaleão de Moraes - 2° sargento
João de Deus Araújo - soldado
João Ribeiro Pinheiro - major
José Bernardo Rosa - 2° sargento
José Hermito de Sá - 2° cabo
José Mário Cavalcanti - soldado
José Menezes Filho - soldado
José Sampaio Xavier - 1° tenente
Laudo Leão de Santa Rosa - 1° tenente
Lino Vitor dos Santos - soldado
Luiz Augusto Pereira - 1° cabo
Luiz Gonzaga - soldado
Manoel Alves da Silva - 2° cabo
Manoel Biré de Agrella - 2° cabo
Misael Mendonça - tenente-coronel
Orlando Henrique - soldado
Pedro Maria Netto - 2° cabo
Péricles Leal Bezerra - soldado
Walter de Souza e Silva - soldado
Wilson França - soldado

 Em 1989, a filha do capitão Danilo Paladini deu o seguinte depoimento:

"Vi, tive em mãos, cuidadosamente guardada para mim por minha mãe, a farda que meu pai vestia quando foi morto. Ali estava nitída, a marca do tiro que pelas costas lhe penetrara o pulmão, saindo pelo coração."

 As famílias dos mortos pelos comunistas, tanto civis como militares, jamais receberam qualquer indenização.
 A família de Luís Carlos Prestes, que teve a patente de capitão cassada, em abril de 1936, por ter liderado a Intentona Comunista, foi indenizada pela Comissão de Anistia e recebe a pensão equivalente ao posto de general-de-brigada, além de R$ 180,000,00 de atrasados, segundo O Globo de 20/05/2005, 1° página.
 As famílias dos vitimados pelos seguidores de Prestes não tiveram tratamento semelhante. As pensões não são as correspondentes aos postos que eles alcançariam se não estivessem sido assassinados no cumprimento do dever.

Fontes:
- Agência Estado. Aedata - William Waack.
- SOUZA, Aluísio Madruga de Moura e, Guerrilha do Araguaia - Revanchismo











quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Luís Carlos Prestes e Olga Benário

 Nos seus primeiros anos, o PCB foi envolvido por inúmeras crises e não definiu a sua linha política. Mesmo assim, a atividade clandestina deu-lhe relativo sucesso na infiltração e recrutamento nas Forças Armadas.
 Entre 1924 e 1927, Prestes percorreu o Brasil na chamada "Coluna Prestes" ou "A Grande Marcha". Essa marcha comandada, na realidade, por Miguel Costa, pregava a luta armada contra a política viciada da época, objetivando a deposição do presidente Artur Bernardes. A repercussão do movimento fez de Prestes um dos mais respeitados lideres entre os tenentes. Nessa época, ele era um revolucionário em busca de uma ideologia.
 O idealismo do Movimento Tenentista (1922-1928), ao longo do tempo, foi manipulado. Com isso, o PCB conseguiu a simpatia de militares como Maurício Grabois, Jefferson Cardin, Giocondo Dias, Gregório Bezerra, Agliberto Vieira de Azevedo, Dinarco Reis, Agildo Barata e Luís Carlos Prestes. Muitos desses voltariam a ter atuação destacada nos períodos anterior e posterior à Contra-Revolução de 1964.
 No inicio de 1930, o prestigio do então capitão Luís Carlos Prestes, exilado na Argentina, ainda era grande. Em maio, começou a abraçar a ideia de uma revolução agrária e antiimperialista e rompeu com seus companheiros de coluna. Angariou simpatia no meio comunista, exatamente pela sua participação no movimento militar que marchou pelo interior do País, nos tempos do Movimento Tenentista. Encontrou então, uma ideologia para seu espírito revolucionário. Em maio de 1931, declarou-se publicamente, comunista e, em novembro do mesmo ano, desembarcou na União Soviética, a fim de aprimorar seu doutrinamento político.
 Em Moscou, fez curso de liderança e capacitação marxista-lenista, sendo nomeado membro do Comitê Executivo do Komintem. Por transformar-se em um fanático comunista, deixando de lado os sentimentos nacionalistas, Prestes recebeu do Komintem a incumbência de chefiar a ação armada no Brasil. O plano deveria ser executado de forma rápida e eficaz, não dando tempo necessário ao governo para reagir.

 Prestes retornou ao Brasil em 1935, já como presidente de honra da Aliança Nacional Libertadora. Veio por Nova York, com o nome Antônio Vilar e trazia, "de fachada", como esposa, Mana Bergner Vilar, na verdade, Olga Benário.
 De familia judia. Olga nasceu em Munique, Alemanha. Com quinze anos filtrou-se a uma organização comunista clandestina, passando a fazer parte da Juventude Comunista Alemã. Presa, por duas vezes, em sua terra natal, fugiu para a União Soviética, onde cursou a Academia Militar da Rússia. Tornou-se, na realidade, uma profissional do serviço secreto militar russo, assumindo a Secretaria de Agitação e Propaganda de sua base operária. Exerceu funções internacionais, com o encargo de escolher novos dirigentes para a organização comunista. Usou, entre outros, os nomes de Ana Baum, Frieda Wolff Beherendet, Ema Kruger, Olga Meireless, Olga Begner e Olga Sinek. Era especializada em espionagem.
 Treinada para obedecer aos chefes, disciplinada, jamais saindo da linha proposta pelo partido, foi, antes de tudo, um fantoche à disposição do Exército Vermelho. Cumprindo sempre, cegamente, as determinações, deixou seu marido russo B.P.Nikitin, em dezembro de 1934, para acompanhar Prestes que voltava ao Brasil.
 Mitificar as figuras de Luís Carlos Prestes e Olga, criando um clima de paixão entre os dois e apresenta-los como heróis brasileiros é insensatez, falsidade e cinismo. Prestes teve a incumbência de chefiar a ação armada no Brasil. O plano era impulsionar o movimento vermelho na América do Sul. Olga tinha a missão de fazer sua segurança e, juntamente com ele, desencadear a revolução comunista brasileira.
 Olga morreu em um campo de concentração nazista, após ter sido deportada do Brasil, no governo Vargas. Por ironia do destino, sua vida teve fim pela crueldade de um regime tão bárbaro quanto aquele para o qual tanto se dedicou.
 Viveu para servir à extrema esquerda e morreu sob o tacão da extrema direita.

Fontes:
- Jornal Inconfidência - Edição Histórica - 27/11/2004 - Belo Horizonte
- Email: ginconfi@vento.com.br
- SOUZA, Aluísio Madruga de Moura e, Guerrilha do Araguaia - Revanchismo.

Partido Comunista Brasileiro

 O primeiro Partido Comunista do Brasil, com a sigla PCB, foi fundado em 25 de março de 1922. Surgiu como resultado dos movimentos sindical e operário, motivados pelo triunfo da revolução comunista na Rússia, em 1917. Começou ativo e, mesmo na clandestinidade, traduziu e divulgou o livro Manifesto do Partido Comunista da União Soviética.
 Até a década de 1930 realizou três congressos (1922, 1925, 1928) e lançou o jornal A Classe Operária. Logo depois, ingressou no Komintern - Terceira Internacional ou Internacional Comunista -, criando a sua Juventude Comunista. O partido incorporou, nessa época, cerca de mil militantes e experimentou um período pleno de crescimento, infiltrando-se em quartéis, fábricas e outras instituições.
 Contando com Luís Carlos Prestes em suas fileiras, articulou em 1935, uma frente nacional, a Aliança Nacional Libertadora (ANL), logo depois posta na ilegalidade.
 Com o fracasso da Intentona Comunista (1935), primeira tentativa de tomada do poder pelas armas, alguns de seus lideres foram presos, outros passaram à clandestinidade e o partido foi colocado na ilegalidade, situação que perdurou até 1945. Atendendo ao chamado do Partido Comunista da União Soviética (PCUS), nem as prisões, nem a clandestinidade, muito menos a ilegalidade o impediu de participar de atividades internacionais, como o apoio aos comunistas na Guerra Civil Espanhola e o evento de combatentes para brigadas internacionais, mantendo internamente, a infiltração nas escolas, nos quartéis, nas fábricas e em organizações de trabalhadores rurais.
 Em maio de 1943, a Intentona Comunista foi extinta, levando ao PCB a se rearticular e apoiar o presidente Vargas contra o nazismo. Desencadeou uma campanha pela anistia em favor dos que haviam participado da Intentona e iniciou um movimento pela paz mundial, desenvolvendo intensas atividades de massa e de organização. Essa é a tática de sempre: aproveitar a crise - no caso a Segunda Guerra Mundial - para, sob o pretexto de defender a paz, angariar a confiança e o apoio da população.
 Ao aproximar-se o término da Segunda Guerra Mundial, em 1945, o presidente Vargas decretou a anistia e legalizou todos os partidos políticos. Graças ao seu trabalho clandestino, o PCB era o mais organizado, tendo, inclusive, uma grande estrutura jornalística, com influência no seio da intelectualidade e dos lideres estudantis.
 Em novembro, Prestes, secretáno-geral do PCB, foi a Recife para as comemorações do 10° Aniversário da Intentona Comunista. Durante o evento declarou que em 1935 pretendera, apenas, realizar uma revolução democrático-burguesa. Falseava a verdade, já que a Intentona fora planejada, orientada e parcialmente executada por agentes a soldo de Moscou, para implantar um regime totalitário em nosso País, como o vigente na URSS.
 De 1945 a 1947, proliferaram, ostensivamente, na periferia de Recife e nas cidades próximas, associações de trabalhadores rurais que eram doutrinados por membros do PCB.
 Em dezembro de 1945, o partido elegeu 14 membros para a Assembleia Nacional Constituinte e Prestes foi eleito senador.
 Já no governo Eurico Gaspar Dutra (janeiro de 1946 a janeiro de 1951), o Brasil rompeu relações com a URSS. O PCB foi declarado novamente ilegal. Muitos militantes, inclusive Prestes, voltaram a agir na clandestinidade. Nesse ponto, ficou célebre a declaração de Prestes de que, em caso de guerra entre o Brasil e União Soviética, ele lutaria ao lado dos soviéticos. O internacionalismo era o seu grande farol.

 Em outubro de 1949, o Partido Comunista Chinês proclamou a República Popular da China. A revolução chinesa foi vitoriosa. empregando militarmente a tática de cercar as cidades, a partir da luta no campo para, depois, conquista-las. Essa estratégia influenciou alguns lideres do PCB que pensavam reproduzila no Brasil. O sonho da luta armada continuava, o MST atual tem essa mesma estratégia.
 Em 1950, o PCB lançou o "Manifesto de Agosto", repetindo o discurso feito por Prestes cinco anos antes, em Recife. Defendia a revolução como a única solução para os problemas brasileiros e conclamava operários, camponeses, mulheres, estudantes, soldados, marinheiros e oficiais das Forças Armadas a formar uma Frente Democrática de Libertação Nacional, reedição da ANL. Estimulou o povo a pegar em armas e propôs a criação do Exército Popular da Libertação Nacional.
 Influenciados pela revolução chinesa, alguns militantes do PCB passaram a atuar em Porecatu, norte do Paraná (1950-1951): no Triângulo Mineiro; e na região de Trombas e Formoso, em Goiás (1953-1954).
 Esses militantes buscavam transformar a luta de posseiros em núcleos de uma revolução camponesa.

 Em fevereiro de 1956, realizou-se o XX Congresso do PC da União Soviética (PCUS). O secretário-geral, Nikita Kruschev, apresentou um relatório secreto abordando dois temas básicos: o combate ao culto da personalidade e a política de coexistência pacifica, admitindo a concomitância do capitalismo com o comunismo.

 Em consonância com o PCUS, o PCB aprovou e divulgou a "Declaração Política", que propunha uma nova tática para a ação comunista no Brasil, como estratégia de longo prazo para a tomada de poder.
Em razão das divergências no Comitê Central do PCB quanto à aceitação dos termos aprovados na "Declaração Política", um grupo de integrantes da Comissão Executiva, minoritário e mais radical - Diógenes Arruda Câmara, João Amazonas, Sergio Holmos e Maurício Grabois -, foi afastado.
 Com isso, no início dos anos 60, o partido começou a se dividir e deu origem a muitas outras organizações de esquerda, que atuariam antes e depois de 1964.

 Em 1961, o Partido Comunista do Brasil passou a chamar-se Partido Comunista Brasileiro, mantendo a sigla PCB. Substituía o "do Brasil" por "Brasileiro", para mascarar a sua vinculação como seção brasileira de um partido comunista estrangeiro, o Partido Comunista da União Soviética.
 Nesse cenário delineavam-se, claramente, dois grupos. A causa da cisão foi a questão da luta armada. João Amazonas*, Maurício Grabois*, Pedro Pomar* e outros estalinistas defendiam as resoluções do IV Congresso e se posicionavam a favor da China, nas divergências com a URSS. Diógenes Arruda Câmara era partidário da revolução agrária e dizia ser necessário desencadear a guerrilha rural, como o processo chinês e, depois, partir para a guerrilha urbana e tomar as cidades.
 Posteriormente, a estratégia do PCB, de não participar da luta armada, levou inúmeros militantes a se afastarem do partido, dentre os quais destacam-se Carlos Marighella, Mario Alves, Jacob Gorender, e Apolônio de Carvalho.

 Em fevereiro de 1962, as rupturas no PCB proporcionaram a criação de um novo partido comunista, vinculado à linha chinesa, que se autodenomina desde então, Partido Comunista do Brasil (PCdoB).

"Articulado por Amazonas, Grabois, Pomar, um protesto, subscrito por uma centena de militantes, encapou a argumentação e declarou assumir a defesa do verdadeiro Partido Comunista. Em fevereiro de 1962, reuniu-se a chamada Conferencia Nacional Extraordinária do Partido Comunista do Brasil, logo conhecido pela sigla PCdoB. Consumava-se a cisão e formalizava-se a coexistência de dois partidos comunistas, em nosso País. O PCdoB se proclamou (e o faz até hoje) o mesmo partido comunista fundado em 1922 e reorganizado em 1962" (GORENDER, Jacob. Combate nas Trevas. 5° edição revista e ampliada. Editora Ática, página 38).

* João Amazonas, Maurício Grabois e Pedro Pomar participaram ativamente da Guerrilha do Araguaia.

Fontes:
 - SOUZA, Aluisio Madruga de Moura e, Guerrilha do Araguaia - Revanchismo
 - http://www.grandecomunismo.hpg.com.br/pcb.htm

De Getúlio a Juscelino 1930 - 1961

 Getúlio Domeles Vargas, gaúcho de São Borja, bacharel pela Faculdade de Direito de Porto Alegre, foi deputado federal e líder da bancada gaúcha, entre 1923 e 1926.
 Em 1929, candidatou-se à Presidência da República na chapa da Aliança Liberal, de oposição. Derrotado pelo paulista Júlio Prestes e apoiado pela Aliança Liberal, não aceitou o resultado das urnas e chefiou o movimento revolucionário de 1930.
 Em 1932, eclodiu a Revolução Constitucionalista, em São Paulo.

 O Partido Republicano Paulista e o Partido Democrático de São Paulo, unidos, incorporaram um grande numero de voluntários, pegando em armas contra o governo provisório.

 O movimento durou três meses e marcou o início do processo da volta à constitucionalização.
 Governou o país entre 1930 e 1934, por meio de um governo provisório.

 Getúlio Vargas foi eleito presidente da República em julho de 1934.
 Foi um período de crises, revoltas e revoluções, que tinham como motivação problemas estruturais e sociais, essencialmente brasileiros.
 O Partido Comunista Brasileiro (PCB), criado em 1922, orientou as ações para liderar o processo revolucionário brasileiro. Como verão ao longo desta história, os comunistas sempre se aproveitaram das crises para ocupar espaço, aliciar militantes, doutrinar as massas e divulgar a ideologia, tudo sob a justificativa da redemocratização, visando a conquista de poder.
 Durante o período em que Getúlio Vargas governou constitucionalmente o país, surgiu, em fevereiro de 1935, a Aliança Nacional Libertadora (ANL), entidade infiltrada e dominada pelo Partido Comunista Brasileiro, para congregar operários, estudantes, militares e intelectuais.
 Os comunistas deram prioridade à revolução operária e camponesa, ao mesmo tempo que exortavam a luta de classes e conclamavam os camponeses à tomada violenta das terras.
 Pregavam a tomada de poder pela luta armada e a instauração de um governo operário e camponês.
 Em agosto de 1934, a linha política passou a ser da insurreição armada, para derrubar o governo e tomar o poder.
 No dia 10 de março de 1935, a ANL promoveu sua primeira reunião pública na cidade do Rio de Janeiro, quando mais de mil pessoas ouviram o seu programa e aplaudiram a indicação de Luís Carlos Prestes, que se encontrava na União Soviética, como presidente de honra.

 O fechamento da ANL, em julho de 1935, e a prisão de alguns de seus membros precipitaram a eclosão da revolta comunista (Intentona Comunista) em novembro.
 Fazendo frente à revolta integralista, em novembro de 1937, Getúlio Vargas determinou o fechamento do Congresso e outorgou uma nova Constituição, que lhe conferiu o controle dos poderes Legislativo e Judiciário e extinguiu os partidos políticos. Tal sistema de governo, denominado Estado Novo, vigorou de 1937 a 1945.

 Reagindo às agressões dos submarinos alemães contra a navegação marítima costeira do Brasil, Vargas declarou guerra à Alemanha e à Itália, em 22 de agosto de 1942.
 Com efetivo de 25,334 homens, a Força Expedicionária Brasileira (FEB) participou, heroicamente, das operações de guerra na campanha da Itália, de julho de 1944 a maio de 1945. A FEB teve 451 mortos e 1,577 feridos, fazendo 20,573 prisioneiros.
 Com os novos ventos da democracia, logo após o término da guerra, Getúlio Vargas foi deposto, em 29 de outubro de 1945, por um movimento político e militar.

 Com a deposição de Vargas, José Linhares, presidente do Supremo Tribunal Federal, assumiu a Presidência da República, preparando as eleições e concedendo registro ao PCB.
 Em dezembro de 1945 foram realizadas eleições para presidente da República e para a Assembleia Nacional Constituinte.
 José Linhares permaneceu no cargo após a posse do presidente eleito, Eurico Gaspar Dutra, em 31 de janeiro de 1946.
 Dutra, em 1947, rompeu relações diplomáticas com a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e cassou o Partido Comunista Brasileiro que, novamente, voltou à clandestinidade.

 Eurico Gaspar Dutra governou de 31 de janeiro de 1946 a 31 de janeiro de 1951, entregando seu governo para Getúlio Vargas, que voltou nos braços do povo, eleito democraticamente. Envolvido por crises, após campanhas violentas contra seu governo, suicidou-se no dia 24 de agosto de 1954. (Não se sabe ao certo como Getúlio Vargas morreu, uns dizem que ele foi assassinado, outros dizem que ele se suicidou)
 Nos dezesseis meses seguintes, três presidentes, Café Filho, Carlos Luz e Nereu de Oliveira Ramos, cumpriram mandatos relâmpagos, até que, em 31 de janeiro de 1956, assumiu Juscelino Kubitschek de Oliveira, governando até o final de seu mandato, em 31 de janeiro de 1961. Seu vice era João Goulart.

 O mineiro Juscelino Kubitschek governou o país sob o slogan "Cinquenta anos em cinco", desenvolvendo um plano de metas que estimulou o crescimento da indústria de base e promoveu a ampliação do sistema de transportes. Investiu também na educação e a economia diversificou-se e cresceu. Em 1957, começou a construção da nova capital, Brasília, planejada por Oscar Niemeyer e Lúcio Costa. Em 1960 transferiu o governo para o Planalto Central.
 Durante o governo JK. o Brasil vivenciou confiança e otimismo. Juscelino conciliou os diferentes setores da sociedade. Os levantes militares, inexpressivos, foram contornados com habilidades pelo presidente. Em fevereiro de 1956, oficiais da Aeronáutica rebelaram-se em Jacareacanga, no Pará. Fato semelhante ocorreu em 3 de dezembro de 1959, em Goiás. Nos dois casos, as rebeliões foram rapidamente debeladas e os rebeldes anistiados.
 No plano internacional, estreitou as relações com os EUA e criou a Operação Pan-americana. Acordos com o FMI e a dívida externa resultaram em arrocho salarial. O mandato de Juscelino chegou ao fim com manifestações de descontentamento popular, estimuladas, como sempre, pelos comunistas no seu trabalho de massas.