terça-feira, 4 de outubro de 2016

Governo Jânio Quadros 31/01/1961 a 25/08/1961

 Em 3 de outubro de 1960, Jânio Quadros foi eleito pela UDN (União Democrática Nacional) e pelo PDC (Partido Democrático Cristão) com 48% dos votos, empunhando a bandeira de moralidade administrativa, da austeridade e da honestidade no trato de coisa pública. O vice eleito foi João Goulart (Jango), candidato da chapa de oposição.
 A conquista de seis milhões de votos e o apoio massivo de variados setores da sociedade levaram muitos a pensar que Jânio resolveria as crises econômicas e políticas do Brasil.
 Jânio era advogado e professor de Português. Nasceu em Campo Grande/MS e transferiu-se para São Paulo, onde iniciou sua bem-sucedida carreira política. Foi vereador, deputado estadual, prefeito da capital e governador do Estado de S. Paulo.
 Na campanha para a Presidência, populista, tinha como lema: "A vassoura contra a corrupção". Era uma figura bizarra. Entre um comício e outro, comia sanduíche de mortadela e pão com banana, que tirava dos bolsos. Vestia roupas surradas, usava cabelos longos e tinha caspas pelos cabelos e ombros. Durante a campanha, levava sempre uma vassoura.
 Com essa imagem folclórica e discurso moralista, encantava as massas.
 Empossado, sempre despachava por meio de bilhetes aos ministros e outras autoridades.
 Jânio fez fama de excêntrico, autoritário e antidemocrático.
 Entre suas realizações, desvalorizou o Cruzeiro (moeda da época), reduziu os subsídios às importações de produtos como o trigo e gasolina, o que elevou o preço do pão e dos transportes. Reprimiu movimentos camponeses e estudantis e exerceu forte controle sobre os sindicatos. Proibiu o uso do biquini, restringiu as corridas de cavalos aos domingos, combateu as rinhas de galo, pregou contra o hipnotismo e determinou que os trajes do tipo safári fossem adotados como uniforme em repartições públicas.
 Seu governo teve baixa popularidade e frágil apoio partidário, pois se ressentia uma base sólida de apoio político, já que no Congresso Nacional os partidos opositores, o PTB e o PSD, constituíam a maioria parlamentar.
 Para completar o quadro, enfrentava a oposição cerrada do então governador do Estado de Guanabara, Carlos Lacerda.
 Uma certa simpatia pelo regime comunista cubano, instaurado após a revolução de Fidel Castro, em 1950, levou-o a condecorar o então ministro da Economia de Cuba, Ernesto Che Guevara, com a Ordem do Cruzeiro do Sul, o que também repercutiu negativamente.
 A conjugação desses fatores o teria conduzido, sete meses depois de empossado, a renunciar, em 25 de agosto de 1961.
 Em sua carta de renúncia, enviada ao Congresso, alegou que "forças terríveis" o teriam pressionado a tomar tal atitude.

 Na ocasião, seu vice, João Goulart, encontrava-se em viagem à China.
 Os estudiosos consideram que Jânio Quadros, sentindo-se enfraquecido, esperava, com sua atitude, fortalecer-se politicamente. Seus objetivos eram bem mais ambiciosos. O presidente acreditava que o Congresso não aceitaria seu pedido de renúncia. Assim, ele voltaria nos braços do povo, fortalecido e com amplos poderes para governar.
 No entanto, ao contrário do que esperava, assumiu interinamente a Presidência da República, na ausência do vice, o deputado Ranieri Mazzilli, presidente da Câmara dos Deputados, governando de 25/08/1961 a 07/09/1961.

Mensagem de renúncia do Sr Jânio Quadros

"Fui vencido pela reação e, assim, deixo o governo. Nestes sete meses cumpri o meu dever. Tenho-o cumprido dia e noite, trabalhando infatigavelmente sem prevenções nem rancores. Mas baldaram-se os meus esforços para conduzir esta Nação pelo caminho de sua verdadeira libertação política e econômica, o único que possibilitaria progresso efetivo e a justiça social a que tem direito o seu generoso povo. Desejei um Brasil para os brasileiros, afrontando neste sonho a corrupção, a mentira e a covardia que subordinam os interesses gerais dos apetites e às ambições de grupos ou indivíduos, inclusive do exterior. Sinto-me, porém, esmagado. Forças terríveis levantando-se contra mim e me intrigam ou infamam até com a desculpa da colaboração. Se permanecesse, não manteria a confiança e a tranquilidade ora quebradas e indispensáveis ao exercício de minha autoridade. Creio, mesmo, não manteria a própria paz pública. Encerro assim com o pensamento voltado para a nossa gente, para os estudantes e para os operários, para a grande família do país, esta página de minha vida e da vida nacional. A mim não falta a coragem de renúncia. Saio com um agradecimento e um apelo. O agradecimento é aos companheiros que comigo lutaram e me sustentaram dentro e fora do governo, e de forma especial às Forças Armadas, cuja conduta exemplar, em todos os instantes, proclamo nesta oportunidade. O apelo ao sentido da ordem, do congraçamento, do respeito e da estima de cada um dos meus patrícios, para todos, de todos, para cada um. Somente assim seremos dignos da nossa herança e da nossa predestinação cristã. Retorno agora ao meu trabalho de advogado e professor. Trabalhemos todos. Há muitas formas de servir nossa Pátria.
      Brasília, 25 de agosto de 1961 - (a.) Jânio Quadros."


 A Nação, atônita, a tudo assistiu, inconsciente e, novamente, vítima indefesa da ação dos comunistas, que viram no momento político excelente oportunidade para incrementar seu trabalho de massas.
 Os acontecimentos, sob a ótica dos comunistas, sem dúvida, queimavam-lhes etapas de rumo ao poder.
 Eles estavam à vontade e tinham toda a razão para pensar assim.
 O "determinismo histórico" dos conceitos marxistas parecia realidade inquestionável.


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