terça-feira, 4 de outubro de 2016

Governo João Goulart 07/09/1961 a 31/03/1964

 João Belchior Marques Goulart, "Jango", advogado, natural de São Borja, RS, iniciou suas atividades políticas em 1946, no Partido Trabalhista Brasileiro (PTB).
 Eleito deputado estadual, no período de 1946-1950, e deputado federal, em 1951, foi também ministro do Trabalho Indústria e Comércio no governo Getúlio Vargas. Candidatou-se ao Senado, em 1954, mas foi derrotado. Foi vice-presidente da República no governo Juscelino Kubitschek e, por força de dispositivo constitucional, presidente do Senado (1956-1961). Em 1960, reelegeu-se vice-presidente da República, concorrendo na chapa de oposição ao candidato da União Democrática Nacional (UDN), Jânio Quadros.
 Com a renúncia de Jânio e por estar em viagem à China, viu o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli, assumir a Presidência da República, conforme previa a Constituição vigente.
 Nessa ocasião, os ministros militares de Jânio, general Odylio Denys, da Guerra: brigadeiro Grüm Moss, da Aeronáutica; e o almirante Sílvio Heck, da Marinha, tentaram impedir, sem sucesso, a posse de Jango.
 Foi constituída uma Junta Militar, composta pelos três.
 Os treze dias que se seguiram foram de muita tensão. A recusa de um governo chefiado por Goulart representava repulsa ao populismo e ao "varguismo". Em alguns lugares, foram iniciados movimentos para empossar Jango na Presidência da República.
 O Rio Grande do Sul foi o ponto-chave da reação em apoio a Jango. Leonel Brizola, governador de estado, cunhado de Goulart, manifestou-se em defesa da posse e iniciou intensa campanha de mobilização popular com o apoio da imprensa e das rádios gaúchas, criando a "Cadeia da Legalidade", que operava com 104 emissoras da região.
 A solução para a crise foi a mudança do sistema do governo, aprovada pelo Congresso Nacional, em 2 de setembro, por meio da Emenda Constitucional n°4, que instalou o regime parlamentarista no Brasil.
 Finalmente, João Goulart foi empossado na Presidência da República, em 7 de setembro de 1961, sob o regime parlamentarista, aprovado ás pressas pelo Senado, para resolver a grave crise político-militar desencadeada. Tinha como primeiro-ministro Tancredo Neves - 07/09/1961 a 26/06/1962.
 Os anos seguintes foram marcados, ininterruptamente, por conflitos políticos e sociais. Em parte, o desgoverno refletia a personalidade dúbia de João Goulart. Se de dia anunciava as reformas planejadas na base do estrito" respeito à Constituição", à noite, pressionado por outras opiniões, anunciava seu propósito de faze-las "na lei ou na marra". Greves e mais greves, algumas criadas no próprio Ministério do Trabalho, se sucediam pelo País. Bancos, escolas, hospitais, serviços públicos, transportes, tudo era paralisado. As filas para compra de alimentos eram intermináveis. Faltavam gêneros alimentícios de primeira necessidade. A inflação era galopante.

 Jango reatou relações diplomáticas com a URSS, rompidas no governo Dutra, e foi contrario às sanções impostas a Cuba. Realizou um governo contraditório. Estreitou alianças com o movimento sindical e tentou implementar uma política de estabilização, baseada na contenção salarial. Determinou a realização das chamadas reformas de base: reforma agrária, fiscal, educacional, bancária e eleitoral, condições exigidas pelo FMI para a obtenção de novos empréstimos e para a negociação da dívida externa. Para ele, elas eram necessárias ao desenvolvimento de um "capitalismo nacional progressista".
 Limitou a remessa de capital para o exterior e nacionalizou empresas de comunicação.
 A oposição ao governo aumentou com o anúncio dessas medidas. Jango perdeu suas bases e, para não se isolar, reforçou as alianças com Leonel Brizola, seu cunhado e deputado federal pela Guanabara, com a UNE e com o Partido Comunista Brasileiro que, apesar de clandestino, mantinha forte atuação nos movimentos estudantis e sindical.
 A atuação das organizações subversivas era grande. Em 18 de novembro de 1961, uma delegação de comunistas brasileiros enviada ao XXII Congresso do Partido Comunista da União Soviética foi recebida por Kremlin por dirigentes russos. Lá, Luís Carlos Prestes e seus seguidores receberam instruções para o preparo político das massas operárias e camponesas e para a montagem da luta armada no Brasil.
 No inicio de 1962, os comunistas conquistaram o domínio da UNE e da Petrobrás.
 O VI Congresso dos Ferroviários mostrou o nível de infiltração comunista no setor de transportes. Um comando unificado orientava e conduzia as ações dos rodoviários, ferroviários, marítimos e aeroviários.
 O jornal oficial do Partido Comunista Brasileiro circulava, diariamente, com artigos audaciosos. As vitórias da União Soviética no plano internacional estimulavam a aceleração do processo revolucionário no Brasil.
 Em fevereiro de 1962, o Partido Comunista do Brasil (PCdoB), dissidente do PCB e recém-criado, organizou-se e passou a defender a luta armada como instrumento para a conquista do poder, seguindo o conceito chinês da "guerra popular prolongada".

 A tensão social em junho de 1962 era dramática. A excitação popular atingiu o auge em Caxias-RJ, em 5 de julho, com a greve no setor petrolífero, com expressivos prejuízos para o Brasil.
 O movimento grevista crescia dia-a-dia. O Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), criado em 5 de julho de 1962, apresentou numerosas exigências, ameaçando com uma greve geral. O movimento operário levantou a bandeira da luta por um novo poder: a greve política.
 O CGT emitia manifestos e instruções com diretrizes do Partido Comunista Brasileiro. Em 14 de setembro, deflagrou nova greve geral pela antecipação do plebiscito para consulta popular sobre o sistema de governo. O movimento grevista paralisou, quase totalmente, a Nação e declarou, em manifesto, que a vitória comunista estava próxima.

"Os sinais de conspiração janguista podiam ser vistos por toda parte, segundo Júlio Mesquita Filho. O próprio governo orientava as greves que se sucediam e incentivava a quebra da hierarquia militar, apoiando os sargentos e marinheiros em rebelião contra seus superiores. No meio da sucessão de crise, Luís Carlos Prestes chegou a dizer publicamente que os comunistas já estão no governo, embora ainda não no poder"
(O Estado de S. Paulo - caderno 2 - "Trajetória de um liberal movido pelo amor ao País" 12/07/1999).

 A disciplina militar se deteriorava rapidamente. Havia insatisfação e divergência nos quartéis. Alguns militares aliaram-se à subversão e procuraram levá-las para o interior dos quartéis.

 Em março de 1962, a Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil foi fundada e tornar-se-ia mais um centro de agitação comunista.
 O Exército era constantemente atacado pela imprensa comunista, particularmente pelas atividades contra as Ligas Camponesas.
 A pregação comunista tornava-se franca e aberta. Preparava-se o povo para fazer a revolução.
 A esquerda alegava que as dificuldades do País não provinham das ações fracas do presidente, mas sim, dos problemas acarretados pelo regime parlamentarista.
 A revogação do parlamentarismo, após um plebiscito nacional, em 6 de janeiro de 1963, levou João Goulart a assumir o governo com todos os poderes do regime presidencialista. No entanto, isso mostrou que, com mais poderes, o presidente deu curso a maiores desordens. Crescia a agitação política.

 Na esquerda, apoiando Jango, estavam organizações como a União Nacional dos Estudantes (UNE), o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), os Partidos Comunistas, as Ligas Camponesas e outras.
 O PCB era o núcleo dominante nas decisões e seguia a orientação ditada pelo Comitê Central. Aspirava alcançar o poder em curto prazo, pelos processos que lhe pareciam menos arriscados e vantajosos.
 Existiam, ainda, outras organizações, como o Partido Operário Revolucionário Trotsquista (PORT), a Ação Popular (AP), e a Política Operária (POLOP) e os Grupos dos Onze, de Leonel Brizola, que pretendiam agir pelo poder das armas.
 Era clara a ingerência externa para transformar o País em uma república comunista.
 O Movimento de Cultura Popular, criado em Recife, com o apoio da UNE, do Ministério da Educação e com o auxilio financeiro externo, se desenvolvia em todo o País. Sob o disfarce de combate ao analfabetismo, realizava abertamente a doutrinação comunista. Vindos de Moscou, substanciais fundos fortaleciam a UNE, que publicava um jornal semanal marxista e panfletos inflamados e distribuía material de leitura, "para combater o analfabetismo". Esse material incluía o manual de guerrilhas de Che Guevara, traduzido por comunistas brasileiros. Lideres da UNE fomentavam greves estudantis e distúrbios na rua.
 De 28 a 30 de março de 1963, o Partido Comunista Brasileiro promoveu o Congresso Continental da Solidariedade a Cuba, reunindo, em Niterói, na sede do Sindicato dos Operários Navais, delegações de várias nacionalidades. Luís Carlos Prestes, em sua abertura, disse que gostaria que o Brasil fosse a primeira nação sul-americana a seguir o exemplo da pátria de Fidel Castro.
 A revolução cubana servia de modelo para organizações revolucionárias comunistas, atuantes na época, que concordavam com a luta armada para conquista de poder.
 O ano de 1963 foi prodígio de conflitos na área rural. A violência era pregada abertamente. Grupos armados, em vários pontos do País, invadiram propriedades, com a conivência de autoridades de membros da Igreja Católica. O movimento crescia com os discursos inflamados de Miguel Arraes, Pelópidas Silveira e outros líderes de esquerda.
 Mais de 270 sindicatos rurais eram reconhecidos pelo Ministério do Trabalho, a maioria infiltrada por lideres comunistas. Enquanto fazendeiros e sindicalistas se armavam, os conflitos se multiplicavam. Dezenas de mortos e feridos era o saldo desses confrontos.
 Segundo Prestes, o PCB já podia se considerar um governo. Cargos importantes nos governos federais e estaduais e no Judiciário estavam em mãos de comunistas e seus aliados.
 Em 12 de setembro de 1963, apoiados pela POLOP, que deslocou para Brasília Juarez Guimarães de Brito, 600 militares, entre cabos, sargentos e sub-oficiais da Marinha e da Aeronáutica, rebelaram-se, em Brasília, contra a decisão do Supremo Tribunal Federal, que se pronunciará contra a elegibilidade do sargento Aimoré Zoch Cavalheiro, eleito deputado estadual no Rio Grande do Sul. A Constituição de 1946 declarava inelegíveis os militares da ativa.
 O comando geral da rebelião era liderado pelo sargento da Força Aérea Brasileira Antônio Prestes de Paula. Os revoltosos ocuparam, na capital federal, o Departamento Federal de Segurança Pública, a Estação Central de Radiopatrulha, o Ministério da Marinha e o Departamento de Telefones Urbanos e Interurbanos e, a seguir, prenderam alguns oficiais, levando-os para a Base Aérea de Brasília.
 A reação à rebelião logo se fez sentir. Os blindados do Exército ocuparam pontos estratégicos de Brasília e dirigiram-se para o Ministério da Marinha, onde os rebeldes se entregaram. Alguns elementos saíram feridos. Houve dois mortos, o soldado fuzileiro Divino Dias dos Anjos, rebelde, e o motorista civil Francisco Moraes.
 O jornal O Globo, do Rio de Janeiro, na edição do dia 19 de setembro, publicou parte do plano dos sargentos, apreendido pelas autoridades militares.
 Depoimento do ex-sargento José Ronaldo Tavares de Lira e Silva, a respeito da revolta dos sargentos:

".. entramos em contacto com uma organização revolucionária muito conhecida no Brasil: a Política Operária (POLOP). A POLOP surgiu depois de 1960 e tivera uma participação muito ativa na ocupação de Brasília, em 1963. Foi a única organização que deu algum apoio político àquela ação dos sargentos."
(CASO, Antônio. A Esquerda Armada no Brasil)

 Em outubro, Jango que, um mês antes, participara de um comício comunista no centro do Rio de Janeiro, preocupado com a crescente agitação, solicitou ao Congresso a decretação do estado do sítio. Sob intensa pressão política, quatro dias depois retirou a solicitação.
 João Goulart, passando a negociar diretamente com o Partido Comunista Brasileiro, recebeu seus representantes e entabulou acordos políticos que satisfizessem às pretensões do partido e aos interesses do governo, formando uma frente popular para a unificação das forças esquerdistas.
 Tudo levava a crer que estava próxima, finalmente, a instalação da "República Sindicalista". Pelo menos assim pensavam João Goulart e as organizações que o apoiavam.

 Em 10 de janeiro de 1964, o secretário-geral do PCB, Luís Carlos Prestes, foi a Moscou informar a Nikita Kruschev o andamento dos planos acordados em 1961. Informou a Kruschev que "os comunistas brasileiros estavam conduzindo os setores estratégicos do governo federal e preparavam-se para tomas as rédeas"
 Prestes pintou um quadro propício ao desencadeamento da revolução, subestimando a reação e superestimando os meios disponíveis.
  - poderoso movimento de massas, mantido pelo Partido Comunista e pelo poder central;
  - um Exército dominado por forte movimento democrático e nacionalista.
  - oficiais nacionalistas e comunistas dispostos a garantir, pela força, um governo nacionalista e antiimperialista; e
  - luta pelas reformas de base

"No Brasil o potencial revolucionário é enorme. Se pega fogo nessa fogueira, ninguém poderá apagá-la" (disse Mikhail Suslov, ideólogo do Partido Comunista da União Soviética)

 A exemplo de 1935, a revolução começaria pelos quartéis. O dispositivo militar seria o grande triunfo.
 Os comunistas brasileiros nunca estiveram tão fortes quanto em 1964. Só que, como acontecera em 1935, Prestes transmitira a Moscou uma impressão excessivamente otimista com relação ao apoio militar e ao apoio do povo.
 Enquanto isso, Fidel Castro, sob os olhos complacentes de Moscou, adiantou recursos a Leonel Brizola para a insurreição político-militar.

 Em 13 de março de 1964, foi realizado um comício defronte à Central do Brasil, no Rio de Janeiro, patrocinado pelo Partido Comunista Brasileiro. Naquela ocasião, o presidente anunciou um elenco de mensagens radicais a serem enviadas ao Congresso. Em torno do palanque, guardados por soldados do Exército, os participantes trazidos em trens gratuitos e ônibus especiais, aplaudia, com bandeiras vermelhas e cartazes que ridicularizavam os "gorilas" do Exército.
 No dia 19 de março de 1964, uma das maiores demonstrações populares, a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, percorreu as ruas de São Paulo, Maria Paula Caetano da Silva, uma das fundadoras da União Cívica Feminina, foi a principal organizadora da passeata. A Marcha partiu em direção à Catedral da Sé, com cerca de um milhão de pessoas . A manifestação foi uma resposta da população civil ao restabelecimento da ordem e dos valores cívicos ameaçados.

"A marcha foi uma reação à baderna que estava tomando conta do País. Não podíamos deixar as coisas continuarem do jeito que estavam, sob o risco de os comunistas tomarem o poder", dizia Maria Paula
      (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2001200404.htlm)

 Falava-se, abertamente, que, a partir de 1° de maio, o Brasil estaria completamente comunizado.
 A crise econômica, marcada por inflação desenfreada, era favorável à situação revolucionária. Os meios de comunicação social - jornais, rádios, peças teatrais, músicas, etc -, infiltrados por comunistas, conclamavam à subversão.
 Poucos dias mais tarde, em 25 de março, um grupo de marinheiros indisciplinados, sob a liderança de José Anselmo dos Santos, "o cabo" Anselmo, em uma reunião no Sindicato dos Metalúrgicos, no Rio de Janeiro, revoltou-se.
 Em 30 de março, o presidente da República compareceu, no Automóvel Clube do Brasil, a uma assembléia que reuniu dois mil sargentos. Ouviu, passivamente, os discursos inflamados que atentavam contra hierarquias e disciplina militar.

Dias decisivos.

 A situação apontava para o caos, tudo com a conivência de um presidente fraco, sem discernimento, ansioso por manter o poder, custasse o que custasse:
 - 3 de março de 1964 - estudantes impediram a aula inaugural do reitor da Universidade Federal da Bahia, Clemente Mariani;
 - 13 de março de 1964 - comício na Central do Brasil;
 - 19 de março de 1964 - Marcha da Família com Deus pela Liberdade / SP;
 - 25 de março de 1964 - reunião de marinheiros no Sindicato dos Metalúrgicos.
 - 26 de março de 1964 - Marighella declara "O partido precisa se separar, pois está em vias de assumir o poder";
 - 30 de março de 1964 - encerra-se, em Goiânia, o Sexto Ciclo sobre Marxismo, conduzido pelo comunista Jacob Gorender e realizado pelo DCE, com apoio da Reitoria da Universidade Federal de Goiás. Jacob Gorender estivera na URSS por dois anos, voltando em 1957;
 - 30 de março de 1964 - assembléia dos sargentos, na sede do Automóvel Clube do Rio de Janeiro, com a presença de Goulart, que fez discurso de incitamento à indisciplina; e
 - 31 de março de 1964 - o comandante da 4° Região Militar, sediada em Juiz de Fora, MG, iniciou movimentação de tropas em direção ao Rio de Janeiro.


 Apesar de algumas tentativas de resistência, o presidente Goulart reconheceu a impossibilidade de oposição ao movimento militar que o destituiu.
 Em documento de autocritica posterior à revolução, intitulado "Esquema para Discussão", editado ainda em 1964, o Partido Comunista afirma:

"... incorremos em grave subestimação da força do inimigo e não estávamos preparados para enfrentar o golpe da direita..."
"Acreditávamos  em uma vitória fácil, através (sic) de um simples pronunciamento do dispositivo de Goulart, secundado pelo movimento das massas."
"Absolutizamos (sic) a possibilidade de um caminho pacífico e não preparamos para enfrentar o emprego da luta armada pela reação."

 As condições "objetivas e subjetivas" para a tomada de poder, sem nenhuma dúvida, estavam presentes. Bastava somente um fato, político ou não, para que as coisas se precipitassem. Era tudo questão de mais dias ou menos dias.
 Um gigante, porém, acordou de seu sono e trouxe a reação que a Nação precisava.
 Com precisão cirúrgica e, por isso, sem derramamento de sangue, o Exército Brasileiro, com o apoio das Forças Armadas co-irmãs, partiu ao encontro dos verdadeiros anseios do povo, livrando a Nação das garras dos comunistas e impondo-lhes nova e acachapante derrota.
 Recordar os momentos da reação é trazer de volta emoções que passaram a ditar meus atos (Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra), a partir daí.
 Tinha a mais nítida convicção de ter escolhido o lado certo: o do Brasil livre e soberano.

Fontes:
- TORRES, Raymundo Negrão, Fascínio dos anos de chumbo.
- http://cadete.aman.ensino.eb.br/histgeo/HistMildoBrasil/nov55_64/12DiasDec.htlm
 

 

Governo Jânio Quadros 31/01/1961 a 25/08/1961

 Em 3 de outubro de 1960, Jânio Quadros foi eleito pela UDN (União Democrática Nacional) e pelo PDC (Partido Democrático Cristão) com 48% dos votos, empunhando a bandeira de moralidade administrativa, da austeridade e da honestidade no trato de coisa pública. O vice eleito foi João Goulart (Jango), candidato da chapa de oposição.
 A conquista de seis milhões de votos e o apoio massivo de variados setores da sociedade levaram muitos a pensar que Jânio resolveria as crises econômicas e políticas do Brasil.
 Jânio era advogado e professor de Português. Nasceu em Campo Grande/MS e transferiu-se para São Paulo, onde iniciou sua bem-sucedida carreira política. Foi vereador, deputado estadual, prefeito da capital e governador do Estado de S. Paulo.
 Na campanha para a Presidência, populista, tinha como lema: "A vassoura contra a corrupção". Era uma figura bizarra. Entre um comício e outro, comia sanduíche de mortadela e pão com banana, que tirava dos bolsos. Vestia roupas surradas, usava cabelos longos e tinha caspas pelos cabelos e ombros. Durante a campanha, levava sempre uma vassoura.
 Com essa imagem folclórica e discurso moralista, encantava as massas.
 Empossado, sempre despachava por meio de bilhetes aos ministros e outras autoridades.
 Jânio fez fama de excêntrico, autoritário e antidemocrático.
 Entre suas realizações, desvalorizou o Cruzeiro (moeda da época), reduziu os subsídios às importações de produtos como o trigo e gasolina, o que elevou o preço do pão e dos transportes. Reprimiu movimentos camponeses e estudantis e exerceu forte controle sobre os sindicatos. Proibiu o uso do biquini, restringiu as corridas de cavalos aos domingos, combateu as rinhas de galo, pregou contra o hipnotismo e determinou que os trajes do tipo safári fossem adotados como uniforme em repartições públicas.
 Seu governo teve baixa popularidade e frágil apoio partidário, pois se ressentia uma base sólida de apoio político, já que no Congresso Nacional os partidos opositores, o PTB e o PSD, constituíam a maioria parlamentar.
 Para completar o quadro, enfrentava a oposição cerrada do então governador do Estado de Guanabara, Carlos Lacerda.
 Uma certa simpatia pelo regime comunista cubano, instaurado após a revolução de Fidel Castro, em 1950, levou-o a condecorar o então ministro da Economia de Cuba, Ernesto Che Guevara, com a Ordem do Cruzeiro do Sul, o que também repercutiu negativamente.
 A conjugação desses fatores o teria conduzido, sete meses depois de empossado, a renunciar, em 25 de agosto de 1961.
 Em sua carta de renúncia, enviada ao Congresso, alegou que "forças terríveis" o teriam pressionado a tomar tal atitude.

 Na ocasião, seu vice, João Goulart, encontrava-se em viagem à China.
 Os estudiosos consideram que Jânio Quadros, sentindo-se enfraquecido, esperava, com sua atitude, fortalecer-se politicamente. Seus objetivos eram bem mais ambiciosos. O presidente acreditava que o Congresso não aceitaria seu pedido de renúncia. Assim, ele voltaria nos braços do povo, fortalecido e com amplos poderes para governar.
 No entanto, ao contrário do que esperava, assumiu interinamente a Presidência da República, na ausência do vice, o deputado Ranieri Mazzilli, presidente da Câmara dos Deputados, governando de 25/08/1961 a 07/09/1961.

Mensagem de renúncia do Sr Jânio Quadros

"Fui vencido pela reação e, assim, deixo o governo. Nestes sete meses cumpri o meu dever. Tenho-o cumprido dia e noite, trabalhando infatigavelmente sem prevenções nem rancores. Mas baldaram-se os meus esforços para conduzir esta Nação pelo caminho de sua verdadeira libertação política e econômica, o único que possibilitaria progresso efetivo e a justiça social a que tem direito o seu generoso povo. Desejei um Brasil para os brasileiros, afrontando neste sonho a corrupção, a mentira e a covardia que subordinam os interesses gerais dos apetites e às ambições de grupos ou indivíduos, inclusive do exterior. Sinto-me, porém, esmagado. Forças terríveis levantando-se contra mim e me intrigam ou infamam até com a desculpa da colaboração. Se permanecesse, não manteria a confiança e a tranquilidade ora quebradas e indispensáveis ao exercício de minha autoridade. Creio, mesmo, não manteria a própria paz pública. Encerro assim com o pensamento voltado para a nossa gente, para os estudantes e para os operários, para a grande família do país, esta página de minha vida e da vida nacional. A mim não falta a coragem de renúncia. Saio com um agradecimento e um apelo. O agradecimento é aos companheiros que comigo lutaram e me sustentaram dentro e fora do governo, e de forma especial às Forças Armadas, cuja conduta exemplar, em todos os instantes, proclamo nesta oportunidade. O apelo ao sentido da ordem, do congraçamento, do respeito e da estima de cada um dos meus patrícios, para todos, de todos, para cada um. Somente assim seremos dignos da nossa herança e da nossa predestinação cristã. Retorno agora ao meu trabalho de advogado e professor. Trabalhemos todos. Há muitas formas de servir nossa Pátria.
      Brasília, 25 de agosto de 1961 - (a.) Jânio Quadros."


 A Nação, atônita, a tudo assistiu, inconsciente e, novamente, vítima indefesa da ação dos comunistas, que viram no momento político excelente oportunidade para incrementar seu trabalho de massas.
 Os acontecimentos, sob a ótica dos comunistas, sem dúvida, queimavam-lhes etapas de rumo ao poder.
 Eles estavam à vontade e tinham toda a razão para pensar assim.
 O "determinismo histórico" dos conceitos marxistas parecia realidade inquestionável.


"Tribunal Vermelho" e os "justiçamentos" do PCB

 Segundo a esquerda radical, revolucionário e comunista não é assassino. Os assassinatos de pessoas - inclusive de seus companheiros de partido - são chamados de "justiçamentos", feitos em nome da "liberdade e da democracia". Em nome desses valores distorcidos, um "Tribunal Vermelho", composto às vezes por duas ou três pessoas, julgava, sumariamente, todos os que desejavam abandonar as fileiras da organização, desiludidos com a ideologia, ou aqueles que se tornavam suspeitos de uma possível delação. Os "juízes" desse tribunal variam de acordo com o contato das vítimas. A partir de 1934, os comunistas perpetraram crimes com requintes de perversidade, em nome de sua ideologia, para eliminar não só os representantes da lei que os combatiam, mas, também, para justiçar alguns de seus próprios companheiros.
 Os "justiçamentos", abaixo relacionados, sugerem que muitos outros podem ter sido cometidos, sem que seus autores e suas vítimas chegassem ao conhecimento público.

Tobias Warchavski - 1934

 Tinha 17 anos e cursava a Escola Nacional de Belas Artes. Iludido com os apelos comunistas e usando o nome falso de Carlos Ferreira, abandonou sua casa e passou a residir com Walter Fernandes da Silva. Ambos eram militantes da Juventude Comunista.
 Em outubro de 1934, seu cadáver foi encontrado, sem documentos, em local ermo, já em decomposição, com a cabeça separada do corpo. Recolhido ao IML, foi encontrado pelos familiares somente 15 dias depois. Tobias foi reconhecido por sua mãe, com o auxilio do dentista da família.
 O PCB difundiu, na época, a notícia de que ele, muito afoito na pregação de sua ideologia, fora descoberto e morto pela polícia.
 Com as prisões de 1935 a verdade surgiu. O famigerado "tribunal" o condenara à morte e o executara. Seus juízes foram Honório de Freitas Guimarães, Pascácio Rio de Souza, Vicente Santos e Guilherme Marcário Jolles ou Jan Jolles.
 Tobias foi atraído a uma emboscada. Ao perceber que seria morto, ajoelhou-se e pediu que lhe poupassem a vida. Walter Fernandes da Silva, ante o desespero do companheiro de quarto, tentou salva-lo, implorando que o poupassem. De nada adiantou. Adolfo Barbosa Bastos acionou o revólver.
 Participantes do assassinato: Vicente Santos; Adolfo Barbosa Bastos; Walter Fernandes da Silva (o companheiro de quarto e amigo de Tobias)

Walter Fernandes da Silva - 1935

 Ao tentar salvar o amigo, passou a ser suspeito. O fatídico "Tribunal Vermelho" decidiu que ele deveria afastar-se do local do crime, para ele não levantar suspeitas. Walter cumpriu as ordens do partido e viajou para Recife, onde, alguns dias depois, apareceu morto na Praia do Pina.

Bernardino Pinto de Almeida - "Dino Padeiro" - 1935

  Acusado de traição, por Honório de Freitas Guimarães, foi julgado e condenado pelo "Tribunal Vermelho". O secretário-geral do partido, na época "Miranda", e Luiz Cupelo Colônio atraíram-no a uma emboscada. "Dino" levou uma coronhada e quatro tiros. Sobreviveu à ação e relatou a tentativa de assassinato.

Afonso José dos Santos - 1935

 O "Tribunal Vermelho" do PCB, já na clandestinidade, depois da derrota da Intentona Comunista, julgou-o, condenando-o à morte.
 Executor: José Emídio dos Santos, membro do Comitê Estadual do PCB do Rio de Janeiro. Foi, ao mesmo tempo, delator e executor da sentença.
 Somente em 1941 o crime foi esclarecido.

Elvira Cupelo Colônio ou Elza Fernandes - 1936

 O irmão de Elvira, Luiz Cupelo Colônio, era membro do PCB e costumava levar os companheiros para reuniões em sua casa. Elvira, uma menina de 16 anos, encantava-se com os discursos do chefe do grupo, o secretário-geral do Partido Comunista do Brasil (PCB), Antônio Maciel Bonfim, o "Miranda". Em 1934, tornou-se amante de "Miranda", que também usava o nome falso de Alberto Fernandes e passou a ser conhecida como "Elza Fernandes" ou "Garota".
 Quando ela foi morar com o amante, seu irmão imaginou a oportunidade de projetar-se no partido.
 Com o fracasso da Intentona Comunista, em janeiro de 1936, "Miranda" e "Elza" foram presos em sua residência. A polícia logo concluiu que "Garota" pouco poderia acrescentar ao depoimento de "Miranda". Foi solta por ser menor.
 Logo depois, vários outros membros do PCB foram presos e as suspeitas recaíram sobre ela. Julgada pelo "Tribunal Vermelho", os "juízes", pressionados pelo parecer de Luís Carlos Prestes, decidiram condená-la à morte.
 Autores da execução: Eduardo Alberto Xavier - "Abóbora"; Honório de Freitas Guimarães - "Milionário"; Adelino Deycola dos Santos - "Tampinha"; Francisco Natividade Lira - "Cabeção"; e Manoel Severino Cavalcanti - "Gaguinho".
 Elvira ou Elza foi enterrada no quintal da casa onde fora assassinada. Anos depois, seu irmão exumou o cadáver e escreveu a "Miranda", o amante de sua irmã, o seguinte bilhete:

"Rio, 17/04/40
Meu caro Bonfim
Acabo de assistir à exumação do cadáver de minha irmã Elvira. Reconheci ainda a sua dentadura e seus cabelos. Soube também da confissão que elementos de responsabilidade do PCB fizeram na polícia de que haviam assassinado minha irmã Elvira. Diante disso, renego meu passado revolucionário e encerro minhas atividades comunistas.
 Do teu sempre amigo,
 Luiz Cupelo Colônio"

Maria Silveira - "Neli" - 1940

 Elizário Alves Barbosa e Maria Silveira, "Neli", eram namorados e, também, militantes do PCB. Residiam em São Carlos, SP.
 Acabando o namoro, Elizário acusou-a de não merecer mais a confiança do partido. O "Tribunal Vermelho" condenou-a à morte, no Rio de Janeiro.
 Participantes: Ricarte Sarrun; Antônio Vitor da Cruz; e Antônio Azevedo, "Paulista". No local, Floresta da Tijuca, esperavam Diocesano Martins e Daniel da Silva Valença.

Domingos Antunes Azevedo - "Paulista" - 1941

 Preocupado com a possível descoberta do assassinato de "Neli", o "Tribunal Vermelho" decidiu eliminar o motorista de táxi que transportou seus executores.
 Participantes: Antônio Vitor da Cruz; Antônio Azevedo Costa; Diocesano Martins; e Daniel da Silva Valença.
 Diocesano Martins desfechou três tiros em Domingos Antunes Azevedo. O cadáver foi atirado à margem da estrada.

Fontes:
- AUGUSTO, Agnaldo Del Nero. A Grande Mentira - Bíblioteca do Exército Editora, 2001.
- DUMONT, F. Recordando a História - Os crimes do PCB. (www.ternuma.com.br).
- Jornal Inconfidência. Belo Horizonte (ginconfi@vento.com.br).